– Falar
português não é difícil – me diz um francês residente no Brasil -, o diabo é
que, mal consigo aprender, a língua portuguesa já ficou diferente. Está sempre
mudando. E como! No Brasil as palavras envelhecem e caem como folhas secas.
Ainda bem a gente não conseguiu aprender uma nova expressão, já vem o pessoal
com outra.
Não é
somente pela gíria que a gente é apanhado. (Aliás, já não se usa mais a
primeira pessoa, tanto do singular como do plural: tudo é ‘a gente’.) A própria
linguagem corrente vai-se renovando, e a cada dia uma parte do léxico cai em desuso.
É preciso ficar atento, para não continuar usando palavras que já morreram,
vocabulário de velho que só velho entende.
Os que
falariam ainda em cinematógrafo, auto-ônibus, aeroplano, estes também já
morreram e não sabem. Mas uma amiga minha, que vive preocupada com este
assunto, me chama a atenção para os que falam assim:
– Assisti a
uma fita de cinema com um artista que representa muito bem.
Os que
acharem natural esta frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme com
um ator que trabalha bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestidos
de roupa de banho em vez de calção ou biquíni, carregando guarda-sol em vez de
barraca. Comprarão um automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo
em vez de um resfriado, vão andar no passeio em vez de passear na calçada e
percorrer um quarteirão em vez de uma quadra. Viajarão de trem de ferro
acompanhados de sua esposa ou sua senhora em vez de sua mulher.
A lista
poderia ser enorme, mas vou ficando por aqui, pois entre escrever e publicar há
tempo suficiente para que tudo que eu disser caia em desuso – é dito e feito.
(Fernando Sabino, Folha
de S. Paulo, 13/04/1984).
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