A saúde pública
brasileira na UTI
Contexto: Os problemas da saúde pública no Brasil são antigos e bem conhecidos, mas voltaram a ser foco de
discussão após os protestos desencadeados em junho. Apesar da alta carga
tributária em vigor no país, os brasileiros sofrem com um atendimento de saúde
precário, que acumula reclamações como demora no atendimento, infraestrutura
insuficiente, médicos mal distribuídos pelo território nacional e profissionais despreparados e até
negligentes.
Sob o pretexto de atender as exigências da população, o governo
apresentou o controverso programa Mais Médicos. Anunciado pela
presidente Dilma Rousseff e pelos ministros Aloizio Mercadante (Educação) e
Alexandre Padilha (Saúde) no dia 8 de julho, o pacote previa, inicialmente,
soluções como o incentivo para médicos atuarem longe dos grandes centros (onde são escassos), aimportação de profissionais
estrangeiros, dois anos extras na formação dos alunos de medicina com atendimento obrigatório no Sistema Único de Saúde (SUS) e a expansão de vagas nas faculdades de medicina. Por causa da resistência do meio acadêmico,
o programa ainda está em discussão. Mas uma proposta do governo já caiu: os
dois anos a mais na formação dos médicos foram transformados em parte da residência médica.
Desenvolvimento: “A redação do Enem
apresenta um problema a ser solucionado. Então, a melhor maneira de começar o
texto é elencar as questões adversas e pensar em maneiras de resolvê-las”, diz
a professora de redação Daniela Aizenstein, do CPV Vestibulares.
Segundo ela, o aluno pode debater sobre o programa proposto pelo governo
e analisar os pontos favoráveis e desfavoráveis. Por exemplo: quais os
problemas decorrentes da “importação” de médicos estrangeiros e o que fazer para superar essas dificuldades? O mesmo vale para a
iniciativa de levar faculdades de medicina para regiões mais afastadas das grandes capitais e assim por diante.
Ao analisar os pontos listados, o aluno deve propor soluções que
exponham seu ponto de vista. Algumas respostas possíveis são investimentos em infraestrutura de hospitais, principalmente em locais afastados, como
meio para atrair médicos. A valorização do profissional da saúde e a melhoria
da sua qualificação também são bons argumentos.
Tenha cuidado: Mesmo sendo um tema
controverso, não existe um posicionamento certo ou errado. Por isso, não é
necessário ficar com receio de apresentar uma proposta “errada”. “A ideia é
incentivar o aluno a pensar e buscar respostas, mostrar maturidade”, diz
Daniela.
A transformação do papel da mulher na sociedade contemporânea
Contexto: A questão da
transformação do papel da mulher na sociedade é um bom treino para a redação do
Enem porque engloba, entre outros, tópicos relativos a mercado de trabalho e
igualdade de direitos — abordagens de exames anteriores. “As redações do Enem
em geral optam por temas de caráter social. A mudança do papel da mulher ainda
não apareceu e, por isso, pode ser uma aposta”, diz a professora Vivian
D’Angelo Carrera, do Cursinho do XI.
O primeiro passo para desenvolver esse tipo de assunto em um texto
argumentativo é analisar, por exemplo, o contexto histórico da mulher na sociedade brasileira. “A história aponta para uma modificação grande
e acelerada na atuação da mulher no último século. Isso fica claro quando
lembramos que elas conquistaram direito ao voto em 1932 e que hoje há uma mulher
à frente da Presidência da República”, diz a professora de redação do Curso
Etapa Simone Ferreira Gonçalves Motta.
Apesar das conquistas, a mulher ainda não possui as mesmas oportunidades
que os homens em muitas áreas e situações. Elas costumam, por exemplo, ganhar
menos no mercado de trabalho para exercer a mesma função. Isso pode motivar abordagens sobre o que
deve ser feito para garantir a elas direitos e oportunidades já conferidos a
eles.
Desenvolvimento: Um bom ponto de
partida para o tema é relembrar passagens importantes da história e, a partir
disso, elaborar uma comparação entre os direitos que a mulher possuía no
passado e os que possui atualmente. É o caso do já citado direito de voto.
Hoje, elas são maioria no universo de eleitores do Brasil, segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
As mudanças, é claro, não se restringem a essa. As mulheres obtiveram
conquistas legais, mas não só. Do ponto de vista do comportamento derrubaram,
especialmente após a II Guerra Mundial, antigas tradições
e preconceitos. As vitórias incluem o direito de estudar, de trabalhar e de
ter ou não filhos (e em que número). Nesse ponto, a transformação está
intimamente ligada à revolução feminista, na década de 1960, impulsionada pela popularização da pílula
anticoncepcional.
Os avanços não podem ignorar os problemas que perduram. É o caso das
desigualdades no mercado de trabalho, o acúmulo de deveres dentro e fora de casa e também a violência doméstica.
Por norma, a
redação do Enem cobra respeito aos direitos humanos. Ainda que a regra seja
imprecisa, para dizer o mínimo, ignorá-la pode levar à anulação da dissertação.
Na avaliação da professora Simone, a aplicação da norma ao tema do papel da
mulher na sociedade contemporânea conduz obrigatoriamente à defesa da igualdade
de direitos — inclusive entre gêneros. “Se todos são iguais, não há motivos
para a mulher ser tratada de forma diferente, ganhar menos, por exemplo”, diz.
Tenha cuidado: Fuja de clichês
como “sexo frágil”, que não servem mais como elogio; se mal utilizados, podem
soar como preconceituoso. Não esqueça também que falar sobre abusos sofridos
pelas mulheres, por exemplo, pode ser parte da dissertação, mas não o tema
principal.
A questão do transporte urbano no Brasil
Contexto: Em alta desde a recente explosão de protestos pelo Brasil, iniciados com o
intuito de reivindicar a revogação do aumento da tarifas de ônibus e metrô em São Paulo, o tema do transporte público urbano é pauta em qualquer roda de conversas e também na imprensa. Não se
trata, contudo, de um problema recente. Por isso, a questão da mobilidade
urbana, ligada à má qualidade de serviços e aos preços relativamente altos, é
um bom assunto para a preparação para a redação. Pode até mesmo figurar na
redação do Enem.
É importante entender que o sistema de transporte urbano está longe de
atender com qualidade a população, principalmente nas metrópoles. A principal
causa disso, apontam os especialistas, é a falta de planejamento urbano e a
insuficiência de investimentos. Em reportagem de VEJA.com publicada em março de 2012, especialistas já apontavam que os aportes ao
setor no Brasil estavam atrasados cinco décadas. O número levou em conta dois
aspectos: descaso público na expansão dos sistemas de trens e metrô (principal
alternativa para grandes deslocamentos em área urbanas e meio menos poluente) e falta de
vontade política para a elaboração de um plano de mobilidade urbana.
Segundo Vivian d’Angelo Carrera, professora de redação do Cursinho do XI
que sugeriu o tema, outro problema relacionado é o aumento dos congestionamentos nas grandes
cidades. Esse fenômeno, é claro, é decorrência das questões citadas acima — que
levaram à explosão do número de veículos particulares nas ruas, em detrimento
de corredores exclusivos para
ônibus, por exemplo.
Desenvolvimento: Um caminho possível
para iniciar o desenvolvimento do tema é elencar os problemas enfrentados pela
população. Além dos já citados, é possível trazer à luz as dificuldades
técnicas enfrentadas pelas linhas de trens existentes (no Rio e em São Paulo há
registros recentes de paralisações), a questão da mão de obra que trabalha no
setor (a ocorrência de greves, por exemplo), e a superlotação de ônibus e trens.
Após esse levantamento, o candidato pode avaliar propostas de solução
para o problema. Uma boa alternativa é listar exemplos de sistemas utilizados
em outros países que conseguiram unir eficiência e qualidade. É o caso do
transporte de Londres, que mantém uma
das redes mais complexas – e funcionais – de integração urbana do planeta. O
ponto de partida para a rede da capital inglesa é o metrô, que foi projetado
para interligar todos os locais da cidade; em caso de problema nas linhas, uma
eficiente rede de transporte alternativo serve de plano B à população. É o caso
do sistema de ônibus — os famosos carros vermelhos de dois andares que trafegam
em corredores exclusivos, o que garante uma boa velocidade durante a viagem.
Londres também é uma das cidades europeias que aprendeu a conviver
pacificamente com bicicletas no trânsito. O exemplo poderia
ser seguido pelos governantes brasileiros, criando mais ciclovias e sinalização
para os ciclistas.
Tenha cuidado: Todas as
providências necessárias para atacar o problema exigem investimentos por parte
do governo. E gastos públicos, no Brasil, muitas vezes podem levar o candidato
a discutir a questão da corrupção e desvios. Contudo, voltar a redação para
esses assuntos pode caracterizar um desvio de tema, aumentando a dificuldade de
conclusão do texto e apresentação de soluções, alerta a professora Vivian.
Álcool e direção: combinação fatal
Contexto: Promulgada em 2008, a lei seca tem como objetivo reduzir os
acidentes provocados por motoristas embriagados, endurecendo as punições contra
quem bebe antes de dirigir. Assim, um condutor abordado pela polícia passou a
ser considerado legalmente bêbado através de um exame, de sangue ou de
bafômetro, se é constatada uma concentração mínima de 0,10 grama de álcool por
litro em seu sangue.
Em dezembro de 2012, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que torna mais rígidas as
punições para motoristas flagrados dirigindo alcoolizados. Além do bafômetro e
do exame de sangue, outros meios — como teste clínico, depoimento policial,
testemunho, fotos e vídeos — passaram a valer como prova. A multa para quem for
pego dirigindo bêbado é de 1.915,40 reais. E pode chegar a 3.830,60 reais se o
indivíduo reincidir na infração no prazo de um ano.
O endurecimento da aplicação da lei seca também
passou por mudanças em janeiro de 2013, quando o Conselho Nacional de Trânsito
(Contran) publicou uma medida que acabava com a margem de tolerância da
quantidade de álcool por litro de sangue. Ou seja, o condutor pode ser autuado
se for constatada qualquer concentração alcoólica no sangue. Porém, mesmo
com a lei, o volume de acidentes de trânsito decorrentes do consumo de álcool
ainda é preocupante.
Uma recente pesquisa do Ministério da Saúde, divulgada em fevereiro de
2013, apontou que 21% dos acidentes estão relacionados ao efeito do álcool. E uma em cada cinco vítimas atendidas nos
prontos-socorros estava embriagada.
Na redação do Enem,
o assunto pode motivar abordagens como: imprudência no trânsito e medidas para
reduzir a quantidade de acidentes ligados ao álcool.
Desenvolvimento: É importante saber
que desde 2008, quando a lei seca foi promulgada, não houve alteração
significativa na quantidade de acidentes com motoristas embriagados. Segundo o
Ministério da Saúde, em 2010, mais de 42.000 pessoas morreram em acidentes.
Isso tem também um custo alto para o país. Em 2011, 200 milhões de reais foram
gastos no Sistema Único de Saúde (SUS) com vítimas da violência no trânsito,
valor que não considera os custos com o Serviço de Atendimento Móvel de
Urgências (Samu), as Unidades de Pronto Socorro e Pronto Atendimento e o
processo de reabilitação do paciente, entre outros.
Um caso recente, que teve repercussão nacional, foi o do motorista alcoolizado que atropelou um ciclista em São Paulo: o
impacto da batida foi tão forte que o braço da vítima foi arrancado. O
motorista fugiu sem prestar socorro. O acidente pode ser citado nos textos da
proposta de redação, motivando discussões sobre impunidade: no caso, o jovem
condutor obteve um habeas corpus na Justiça e continua solto.
Após a apresentação do problema, o candidato pode apresentar seu ponto
de vista. Alguns possíveis caminhos são relatar as causas e consequências do
uso indiscriminado do álcool, assim como avaliar as campanhas educativas feitas
até agora pelo governo e sua real eficácia. Também é possível propor o aumento
da fiscalização, assim como o enrijecimento das leis na hora de
punir motoristas pegos sob o efeito de álcool.
Tenha cuidado: “Se o candidato
ficar preocupado apenas com o problema do consumo de álcool e voltar à sua
argumentação para a questão do vício nessa e em outras substâncias, pode ficar
configurado um desvio do tema”, explica Vivian d’Angelo Carrera, professora de
redação do Cursinho do XI.
Casamento gay
Contexto: Algumas nações vêm
reconhecendo o casamento entre pessoas do mesmo sexo, caso de Argentina, França e Uruguai — o assunto está ainda na pauta de Grã-Bretanha e de vários estados americanos. O tema também avançou no
Brasil. Em 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a união estável
homossexual. Em maio de 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que obriga os cartórios a realizar o
casamento civil entre pessoas do mesmo sexo — a medida ainda pode ser
contestada no STF. Até então, os cartórios podiam se recusar a reconhecer tais
uniões, e os casais precisavam recorrer à Justiça.
O assunto pode
motivar abordagens como a igualdade de todos perante a lei ou ainda os novos
arranjos familiares.
Desenvolvimento: A questão da
igualdade de direitos é de fato o primeiro ponto a ser avaliado, diz Eclícia
Pereira, professora de redação do Cursinho da Poli. No caso, casais
homossexuais passam a ter as mesmas garantias e obrigações dos demais perante a
lei.
Outra questão a ser
observada é a mudança da estrutura familiar em curso. Além do núcleo
tradicional — formado por pai, mãe e filhos —, estabelecem-se outros arranjos,
a partir dos casais formados por parceiros do mesmo sexo. Até mesmo a adoção de
crianças por esses casais pode ser um tema abordado.
Tenha cuidado: Para a redação do
Enem, não importa sua opção sexual. Essa é, aos olhos dos examinadores, uma
questão privada. O imporante é reconhecer no assunto um fenômeno social, que
tem consequências e desdobramentos na vida de muitos cidadãos.
O petróleo do pré-sal brasileiro
Contexto: Em 2007, a
Petrobras anunciou a extração de petróleo a 180 quilômetros da costa e a
7.000 metros de profundidade, logo abaixo de uma espessa camada de sal. A
estimativa inicial é que existam no chamado pré-sal brasileiro — área que se estende por 800 quilômetros do litoral, de Santa Catarina
ao Espírito Santo — reservas de até 80 bilhões de barris. Apesar disso, a
produção só começará dentro de alguns anos, pois são necessários grandes
investimentos para realizar a extração submarina.
Em seus últimos dias de governo, o ex-presidente Lula sancionou a lei
que estabelece o regime da partilha da exploração do
pré-sal, definindo que estado e empresas dividirão a produção de óleo e gás — à
União cabera capturar a maior parte da riqueza gerada com a atividade. A
primeira licitação, que dará a um grupo privado o direito de explorar a área de
Libra, na Bacia de Santos, será decidida através de leilão marcado para outubro.
O assunto pode
motivar indagações como quais as vantagens e desvantagens de um país como o
Brasil se tornar um grande produtor de petróleo ou ainda o destino que tal
riqueza deve tomar. Governo e Congresso discutem a ideia de reverter parte dos
royalties do pré-sal exclusivamente para a educação.
Desenvolvimento: Um encaminhamento
possível para a dissertação é observar a questão do ponto de vista econômico.
Ser um grande produtor de petróleo certamente terá efeitos positivos para o
Brasil. Um caminho complementar é olhar o assunto pela óptica do meio ambiente.
Aqui, emerge um detalhe importante: como combustível fóssil, o petróleo não
gera energia limpa — caso da eólica e
da hidrelétrica, por exemplo. Além disso, é uma energia não-renovável, ou seja,
um dia vai se esgotar.
"Temas ambientais são comuns no Enem.
Esta pode ser a oportunidade de o aluno apresentar conhecimentos de geografia,
por exemplo, e conceitos sobre sustentabilidade", diz o professor de
redação do Anglo Eduardo Calbucci.
Tenha cuidado: É importante
entender que não existe uma postura certa ou errada no assunto. É possível
apresentar visões diferentes de mundo, contanto que o ponto de vista seja
defendido com bons argumentos. Deve-se redobrar a atenção para não ficar
"em cima do muro" ou se contradizer durante a argumentação.
A lei de cotas nas universidades
Contexto: A presidente Dilma
Rousseff sancionou, em agosto de 2012, a lei das cotas, que reserva 50% das vagas de universidades
federais a alunos oriundos de escolas públicas. A distribuição das 120.000
vagas a serem ocupadas dessa forma deverá observar ainda a cor da pele dos
candidatos – sempre haverá, portanto, vagas reservadas a negros, pardos e
índios na proporção dessas populações em cada estado. Metade dessas cotas é
voltada a estudantes de famílias de baixa renda. As federais terão quatro anos
para se adaptar às regras, sendo que, já em 2013, deverão reservar ao menos 25%
das vagas.
Um tema como cotas
poderia motivar diversas questões como as seguintes: as cotas universitárias
podem minimizar desigualdades sociais no Brasil? Quais as prováveis
consequências da adoção das cotas para as universidades brasileiras?
Desenvolvimento: A discussão sobre o
sistema de cotas universitárias no Enem dificilmente discutirá se a adoção do
mecanismo é certa ou errada, do ponto de vista do candidato. Isso porque as
cotas já são uma realidade. Por isso, reflexões produtivas sobre o assunto
devem se deter sobre as razões histórica da desigualdade entre os brasileiros e
as ações possíveis para minimizá-la.
Redução da maioridade penal
O aumento de crimes cometidos por jovens com menos de 18 anos reacendeu
a discussão sobre a redução da maioridade penal para 16 anos. A mudança alteraria o código do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) — que prevê que um jovem seja considerado
culpado por suas ações apenas depois dos 18 anos. Isso faz com que a privação
de liberdade para menores de idade infratores não supere os três anos.
Os examinadores do
Enem poderiam questionar, por exemplo, qual a opinião do candidato sobre a
eficácia da redução da maioridade penal.
Desenvolvimento: Para começar a refletir sobre o
tema, levante questionamentos como: o que leva pessoas jovens ao crime? Por que
elas trilham esse caminho? É um problema social ou de caráter? Questões como
essas ajudam a desenvolver um ponto de vista; a partir de então, fica mais
fácil defender uma posição ou outra.
Tenha cuidado: As regras do Enem exigem
"respeito aos direitos humanos". Sendo assim, qualquer tipo de
incitação à violência pode levar à desclassificação do candidato.
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